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“Chega antes e domina a tecnologia aquele que a busca incessantemente”


Grandes ProfissionaisTS 216 11 de setembro de 2019 | Por: Portal TS
“Chega antes e domina a tecnologia aquele que a busca incessantemente”

O desenvolvimento e a experiência de 60 anos de carreira na Eberle/Mundial do engenheiro Lucena Fernandes

Lucena Fernandes conta sua experiência de 60 anos na Eberle/Mundial;

o relato de uma vida

Lucena Fernandes é um profissional singular. Há sessenta anos trabalha na mesma empresa, a Eberle/Mundial, onde iniciou como torneiro mecânico, quando recém-formado pelo Senai, e hoje atua na “engenharia da empresa Sabresul, sucessora da Eberle/Mundial na fabricação de espadas e espadins para as forças armadas, Exército, Marinha e Aeronáutica, e para as forças auxiliares, Polícia Militar e Bombeiros”. Ele mesmo lembra como foi o início de trabalho, quando, precisou passar um ‘bastão diferente’ ao seu sucessor: “A primeira tarefa que me foi confiada foi varrer o chão da seção. Descobri logo que essa tarefa diária era atribuída ao novato. Daí restou ficar na expectativa de que alguém fosse admitido para que pudesse entregar a vassoura”.

É realmente incomum um profissional fazer a vida dentro de uma empresa; mas não para o Sr. Lucena, e muito menos para a Eberle, pois, nesse caso, os valores de um se coadunaram com os valores do outro a começar por algo que muito se fala nos dias atuais, como a satisfação do funcionário, o investimento em seu bem-estar pessoal e seu desenvolvimento intelectual, situações aplicadas há muito tempo na companhia. “Com a chegada da Faculdade de Engenharia na UCS-Universidade de Caxias do Sul, a Eberle financiou os meus estudos que, somente após a graduação, restituí os valores, em parcelas mensais. Em continuidade, fiz pós-graduação, em Engenharia de Segurança, e fui promovido para gerente de engenharia. A Eberle/Mundial proporcionou-me todas as oportunidades de crescimento através da diversidade dos núcleos fabris, das tecnologias desenvolvidas ou absorvidas. Nunca senti necessidade de procurar trabalho em outra instituição”, revela o executivo.

O executivo (à esq.) iniciou como torneiro mecânico e hoje atua na divisão que fabrica espadas e espadachins para as forças armadas

As duas famílias

A empresa também transmitiu fortes valores morais, cujo caráter de Lucena absorveu com rapidez e o propagou para seu próprio núcleo íntimo. “Sem o trabalho, o homem permaneceria na infância da inteligência”, assevera, e continua: “O trabalho é uma Lei Natural, por isso mesmo é uma necessidade. A civilização obriga o homem a trabalhar cada vez mais, necessitando de maior preparo para enfrentar a concorrência pelos postos de trabalho – escassos e competitivos. Ainda faço parte ainda de uma grande família chamada Eberle/Mundial. Mas essa escala hierárquica define apenas a responsabilidade de função de  cada um perante a sociedade, pois todos sempre tiveram o direito e o espaço de se expressar e opinar. Numa demonstração de responsabilidade pelas tarefas que exercem, sentem-se a vontade para dizer que não trabalham para agradar ninguém, mas para o sucesso da Mundial e, é claro, para o sucesso da  grande família. Essa grande família estreitou seus laços e muitos tiveram oportunidade de passagem por outras  empresas, onde os laços profissionais e de amizade se estreitaram e rendem frutos em abundância. Apesar das crises econômicas que assolam o mundo como um todo, e que resultam em mudanças estratégicas constantes, essa grande família continua unida”, diz como alguém em agradecimento. Esse ideal é repassado ao seu próprio ambiente familiar, formado conjuntamente com a construção de sua estabilidade e formação profissional: “Família é a célula primeira da humanidade. Nessa trajetória, a família teve importância fundamental. Primeiro os pais, depois a esposa e, finalmente, as filhas e as netas. De um lado a formação do caráter, da moral e o encaminhamento ao gosto pelo trabalho. De outro o apoio, a compreensão o encorajamento nas horas difíceis e, através das filhas e netas, a alegria, a recompensa, o recomeçar”.

Sua fortaleza moral vai além, pois Lucena se dedica a outras áreas de atuação, dando vazão à sua estrutura interna e aos conceitos que realmente acredita fazerem parte de algo maior, conforme relata: “Dedico seis horas por semana em trabalho voluntário, faça chuva ou sol, frio ou calor, não faltamos ao compromisso assumido. Faço parte da CMA-Comissão de Meio Ambiente do SIMECS-Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (RS). Essa comissão assessora as indústrias associadas,  orientando ou buscado soluções para problemas de meio ambiente comuns aos associados. A comissão age como um facilitador”. Aliás, vale dizer que meio ambiente é um tema caro ao engenheiro: “Uma área a que nos dedicamos com especial cuidado e carinho. O momento nos remete a refletir sobre a preservação da vida em nosso planeta, para um comportamento ambiental mais consciente. Quem não tiver convicção de que não podemos mais prejudicar o meio ambiente, aconselho a fechar as portas. Estamos diante de um momento crítico da história do planeta, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. Devemos somar esforços para gerar uma sociedade sustentável global, baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a esse propósito é imperativo que nós, povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações. Mais do que nunca a indústria em geral, não somente a indústria galvânica, devem estar atentas aos mecanismos de desenvolvimento limpo e inovando na implantação da análise de ciclo de vida de seus produtos. Desnecessário dizer da necessidade de se prever investimentos nessa área, para atender os princípios e compromissos do desenvolvimento sustentável”, diz.

Revolução no setor

Falando sobre a indústria de tratamento de superfície, para o executivo, a automação foi a grande revolução do setor. Ele, inclusive, foi inventor de um processo automático na área galvânica, como ele mesmo conta: “No início da minha carreira, o tratamento de superfície ainda engatinhava. Os banhos eram formulados internamente, tudo era verticalizado. Não havia automação; os colaboradores trocavam as gancheiras manualmente de um  tanque a outro. Na Eberle, desenvolvi a primeira ‘automação de linha’ na linha de banho de prata. O que me pareceu até simplório... Sobre a linha de tanques do banho de prata instalei um trilho, desenvolvi um quadro/suporte para as gancheiras e coloquei um cilindro pneumático para suspender e baixar o quadro das gancheiras através de válvulas. O cilindro pneumático  era fixado a  um conjunto de rodas que, por sua vez, sustentava o cilindro ao trilho. Finalmente, o conjunto todo era deslocado de um tanque a outro, através de uma manopla puxada manualmente pelo operador”.

Ele ainda destaca que a automação era algo tão surpreendente à época que era necessário convencer o conselho para realizar investimentos nesse sentido. Para começar, nos anos de 1970, a empresa trouxe da Itália “o professor Bertorelle, o papa da galvanoplastia que ficou, por 30 dias, repassando conhecimento e nos assessorando na revitalização dos processos de galvanoplastia”, diz o executivo que também detalha a transição posterior para a automação: “Foi preciso dar segurança aos conselheiros, convencendo-os a aprovar os investimentos necessários e de que era possível, sim, controlar de maneira eficiente os parâmetros operacionais antes realizados com chaves facas de contato simultâneo providas de resistências em forma de molas. A automação das linhas galvânicas baixou o custo em razão da redução de mão de obra com aumento na produtividade e melhoria na qualidade”, revela.

E se o passado transformou a indústria, a mudança se faz ainda maior no presente.

O que está por vir

O Sr. Lucena aponta não só a inovação como algo que deva ser uma constante no setor, mas mostra que o próprio negócio está se modificando: “Assim como as joias deram lugar às bijuterias, o revestimento galvânico dará lugar a metalização e outros acabamentos não nobres, como os  vernizes cataforéticos e até pinturas – que também ganham cada vez mais espaço. A metalização deve crescer  e ganhar espaço em produtos não técnicos, como decoração e beleza. Os metais são commodities com preços em alta, por essa razão  o tratamento de superfície deverá ficar restrito aos produtos técnicos onde haja necessidade de garantir camada depositada e tempo de vida do produto, ou seja, quando o tratamento de superfície faz parte intrínseca do produto. As pequenas galvânicas, que tabalham na prestação de serviços, deverão migrar para metalização para sobreviver. Essa migração é inevitável e já ocorre”. Ele continua: “A indústria galvânica terá que se reinventar. As ciências se reinventam todos os dias. Em todas as áreas há novidades constantes, inovação é a palavra-chave. O conhecimento é imensurável e o homem não tem sequer ideia do que está por vir. Chega antes e domina a tecnologia aquele que a busca incessantemente com obstinação”, reforça.

Para finalizar, ele aconselha: “Num mundo globalizado, onde a concorrência não tem mais fronteiras; a única coisa certa é a mudança. Temos que estar preparados e ter flexibilidade para mudanças estratégicas, rápidas e, às vezes, radicais. Aprendi, desde cedo, a trabalhar em equipe, encorajando a participação de todos, procurando não evidenciar defeitos, mas estimulando as virtudes e o potencial de grupo, reorientando opiniões para os interesses coletivos. Quanto mais troca de experiências entre os integrantes de equipes, maior é o vínculo entre si e para com a instituição. Sempre tive consciência dos limites das funções que exerci. Sempre gostei do que fiz. Sempre trabalhei em clima de liberdade de expressão. É importante que as indústrias identifiquem e retenham talentos”, conclui o executivo.     

Referências de Lucena Fernandes

O profissional compartilha aqui os conceitos-chave que regem as ações em sua vida pessoal e profissional.

“Perseverança: Jamais desanimando ante os problemas, ante as dificuldades, acreditando que tudo pode ser superado e que para isso basta ter vontade.

Dedicação: Muitas vezes priorizando a Mundial, em relação à família. Dedicação na necessidade de aperfeiçoar-se e aperfeiçoar o trabalho, do trabalho extra solicitado, de querer o melhor para a Eberle/Mundial porque sabem que se a Eberle/Mundial vai bem, todos vão bem. É a Lei de ação e reação.

Respeito: Hierárquico, pelos colegas de trabalho; pelos bens ativos da empresa - disponibilizados para que exerçamos o direito ao trabalho. Respeito pelas opiniões divergentes.

Humildade: De aprender o que não se sabe; em aceitar as pessoas como elas são, e sem querer modificá-las. Em se colocar no mesmo nível de colegas mais simples para não constrangê-los.

Felicidade: Por estarmos ligados a matéria, muitos condicionam a conquista da felicidade à aquisição de bens materiais, outros ancoram o sonho da felicidade na busca da fama, do sucesso, do poder... Para outros, a felicidade está associada à inexistência de problemas. Na verdade, a felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Ninguém pode nos fazer mais felizes ou infelizes, somente nós mesmos é que regemos o nosso íntimo. Ninguém decreta que alguém será feliz. A felicidade é uma conquista interior e que demanda elevação moral, ética e espiritual. Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional. A vida não é um problema, é um desafio. Ela nos apresenta oportunidades de crescimento constante, principalmente nos setores que somos mais carentes. Por detrás dos problemas existem lições, desafios, tarefas... A felicidade toma conta de cada um de nós quando vencemos os obstáculos que a vida nos apresenta. A felicidade é feita de coisas pequenas e simples, como esta entrevista. A felicidade é a arte de viver e servir, é a arte exalar paz, alegria, amor... E a encontramos na autossuperação!”

 

Acesse o conteúdo original publicado na revista Tratamento de Superfície, edição 216, página 10-12

Acesse a edição 216 digital | Setembro 2019

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